Displasia Broncopulmonar: Como ela pode afetar a vida dos bebês prematuros?

A displasia broncopulmonar (DBP) é uma das complicações mais importantes e desafiadoras da prematuridade, especialmente em bebês que nascem muito antes do tempo, com menos de 28 semanas de gestação.  Bebês nascidos com > 28 semanas de gestação, têm menor incidência de DBP e, quando ocorre, é geralmente mais leve e de rápida melhora. 

Com os avanços da medicina neonatal, o entendimento sobre a DBP mudou, trazendo novas informações essenciais para as famílias de prematuros.

O que é a nova displasia broncopulmonar?

Hoje, a DBP não é mais vista apenas como uma lesão causada pelo uso de oxigênio e ventilação mecânica, mas principalmente como uma interrupção do desenvolvimento normal dos pulmões do bebê prematuro. Ou seja, o grande problema é que o pulmão simplesmente para de se desenvolver como deveria após o nascimento precoce, resultando em menos alvéolos (as “bolsinhas” responsáveis pela troca de oxigênio) e vasos sanguíneos pulmonares menos desenvolvidos.

Essa nova visão é muito importante: o pulmão do prematuro extremo não chega a formar as cicatrizes e a fibrose vistas antigamente, mas sim fica “incompleto”, com menos estruturas para fazer a respiração funcionar bem.

Por que a displasia broncopulmonar acontece?

Os principais fatores que levam à DBP são:

  • Pulmões muito imaturos, que ainda não terminaram de se formar.
  • Necessidade de suporte respiratório (oxigênio, ventilação mecânica ou CPAP) logo após o nascimento.
  • Inflamação e infecções, que podem agravar o quadro.
  • Exposição prolongada ao oxigênio em concentrações altas, que pode prejudicar o tecido pulmonar.
  • Fatores genéticos parecem estar envolvidos 

Sintomas e sinais mais comuns

  • Respiração rápida e com esforço (taquipneia)
  • Retrações torácicas (afundamento da pele entre as costelas ao respirar)
  • Cianose (coloração azulada dos lábios ou extremidades)
  • Necessidade de oxigênio por semanas ou meses
  • Chiado no peito, tosse crônica e dificuldade para ganhar peso
  • Infecções respiratórias frequentes

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico da DBP já pode ser feito quando o bebê prematuro precisa de oxigênio suplementar por pelo menos 28 dias após o nascimento. Se o bebê nasceu com menos de 32 semanas, consideramos o tempo de oxigênio até 36 semanas de idade corrigida ou até a alta. 

Se o bebê nasceu com mais de 32 semanas, consideramos para diagnóstico 56 dias de necessidade de oxigênio ou até a alta. A DBP também pode ser classificada aos 28 dias de vida ou mais, pela quantidade de oxigênio necessária: Leve (paciente em ar ambiente), moderada (FiO2 < 30%) e grave (FiO2 > ou igual a 30% ou necessidade de CPAP ou ventilação mecânica). 

Exames de imagem, como radiografia de tórax, ajudam a confirmar o quadro, além de outros exames para descartar complicações associadas, como hipertensão pulmonar.

Estratégias modernas de prevenção

A prevenção da DBP começa antes mesmo do nascimento e continua na UTI neonatal. Os principais avanços e estratégias incluem:

  • Corticóide na gestante: Quando há risco de parto prematuro, o uso de corticoide acelera a maturação dos pulmões do bebê ainda dentro do útero, diminuindo o risco de DBP.
  • Surfactante pulmonar: Logo após o nascimento, o surfactante pode ser administrado para ajudar os pulmões a se expandirem e funcionarem melhor, reduzindo lesões.
  • Uso de cafeína: A cafeína é usada para estimular a respiração do prematuro, diminuindo episódios de pausas respiratórias (apneia) e reduzindo a necessidade de ventilação mecânica.
  • Ventilação mais gentil: Hoje, a prioridade é utilizar ventilação não invasiva (como o CPAP) e, quando necessário, ventilação mecânica com as menores pressões possíveis, para evitar lesões adicionais nos pulmões frágeis do prematuro.

Tratamento e cuidados após o diagnóstico

O tratamento da DBP é multidisciplinar e individualizado, com foco em:

  • Suporte respiratório adequado (oxigênio, CPAP ou ventilação mecânica gentil)
  • Nutrição otimizada, pois o crescimento ajuda o pulmão a se recuperar
  • Controle rigoroso de líquidos e uso de diuréticos para evitar acúmulo de líquidos nos pulmões
  • Prevenção de infecções, com vacinação e medidas de higiene
  • Acompanhamento regular com especialistas, incluindo o pediatra neonatologista. 

E no seguimento do paciente com DBP? No que devemos ter atenção? 

Pacientes com DBP tem maiores riscos, por isso devemos estar atentos a possíveis complicações: 

  •  Alterações no desenvolvimento neuropsicomotor
  •  Doença do refluxo gastroesofágico (DRGE)
  •  Hipertensão pulmonar
  •  Hipertensão sistêmica
  •  Dificuldades alimentares
  •  Raquitismo
  •  Pneumonia, hospitalização e sibilância recorrente
  •  Retinopatia da prematuridade 
  •  Alteração auditiva

O que pode ser feito para prevenir a Displasia Broncopulmonar?

A prevenção da DBP começa ainda na gestação e continua na UTI neonatal:

Durante a gestação:

  • Controle rigoroso do pré-natal para prevenir o parto prematuro
  • Uso de corticosteróides antenatais para acelerar o amadurecimento pulmonar fetal, em situações onde há risco de parto prematuro.

Após o nascimento:

  • Uso criterioso e gentil de ventilação mecânica
  • Preferência por ventilação não invasiva (CPAP)
  • Administração precoce de surfactante, quando indicado
  • Uso de cafeína, que melhora a respiração espontânea e reduz a necessidade de intubação
  • Redução do uso prolongado de oxigênio em altas concentrações

Prognóstico e vida após a alta

A maioria dos bebês com DBP apresenta melhora progressiva ao longo dos meses e anos, pois o pulmão continua se desenvolvendo após o nascimento. No entanto, é comum que essas crianças tenham maior risco de infecções respiratórias, sintomas semelhantes à asma e, em casos mais graves, atrasos no desenvolvimento.

Com acompanhamento especializado e um ambiente saudável, muitos prematuros superam os desafios da DBP e levam uma vida ativa e feliz.

Com acompanhamento regular, suporte multiprofissional e ambientes saudáveis, muitos desses bebês têm prognóstico positivo e alcançam uma vida ativa e saudável.

Receber o diagnóstico de Displasia Broncopulmonar pode gerar medo e ansiedade, especialmente após um longo período na UTI. Mas é importante lembrar: os avanços na neonatologia têm transformado realidades. Com o apoio da equipe de saúde, acompanhamento cuidadoso e muito amor, os desafios podem ser superados, com um passo de cada vez.

Se você está passando por essa experiência, saiba que há esperança e que, com o apoio certo, é possível superar os desafios impostos pela DBP. Mantenha-se informada, busque um atendimento individualizado, humanizado e especializado para escolher as melhores opções de vacinação. Você pode ter mais informações clicando aqui. 

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Dra. Jessica Soares⠀

Pediatra e Neonatologista⠀

CRM-SP 126.429 | RQE 60.897

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