Classificação da Prematuridade: você sabia que os prematuros não são todos iguais?

A prematuridade é um dos desafios mais significativos da neonatologia e ocorre quando um bebê nasce antes das 37 semanas de gestação. Dependendo da idade gestacional no momento do nascimento, os bebês prematuros são classificados em quatro graus principais:

Os Graus de Prematuridade

  1. Prematuros Extremos: Nascem antes das 28 semanas de gestação.
  2. Muito Prematuros: Nascem entre 28 e 31 semanas e 6 dias de gestação.
  3. Prematuros Moderados: Nascem entre 32 e 33 semanas e 6 dias de gestação.
  4. Prematuros Tardios: Nascem entre 34 e 36 semanas e 6 dias de gestação.

A prematuridade exige uma série de cuidados médicos, pois quanto mais precoce for o nascimento, mais imaturos serão os órgãos do bebê e maiores serão os riscos de complicações. Felizmente, com os avanços da tecnologia e das Unidades de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN), a taxa de sobrevida desses bebês tem aumentado significativamente.

Principais Desafios dos Bebês Prematuros

Bebês prematuros perdem calor com facilidade, pois têm pouca gordura corporal. Assim, precisam ser mantidos em incubadoras para evitar a hipotermia. O método Canguru, que consiste no contato pele a pele com os pais, também ajuda na regulação térmica, dentre outros benefícios.

Os pulmões dos prematuros, especialmente os que nascem antes de 34 semanas, ainda não produzem surfactante suficiente, uma substância essencial para a respiração. O surfactante é produzido pelos pneumócitos tipo 2, e é responsável pela manutenção dos alvéolos “abertos”, permitindo a oxigenação do sangue nos pulmões. A produção deficiente, e até mesmo a baixa qualidade do surfactante produzido pelo pulmão prematuro, pode contribuir para o desenvolvimento da Síndrome do Desconforto Respiratório (SDR), mais comum nos prematuros extremos e com menos de 1,5 kg. Por isso, muitos necessitam de suporte respiratório, e o tratamento é a administração do Surfactante direto na traqueia do bebê. 

Nos demais prematuros, outro quadro muito comum que cursa com dificuldade para respirar é a Síndrome do Pulmão Úmido, excesso de líquido nos pulmões. Esse quadro é tratado na UTI neonatal com oxigênio e suporte ventilatório, como o CPAP. 

O intestino imaturo pode demorar dias para tolerar a quantidade de leite que o bebê prematuro precisa para crescer e se desenvolver, por isso, muitos iniciam a alimentação com pequenas quantidades de leite, e necessitam de uma complementação da nutrição através da Nutrição Parenteral e soro para manter suas necessidades basais. 

Também é necessário dizer que a coordenação entre sucção, deglutição e respiração ainda não está completamente desenvolvida. Por isso, muitos bebês prematuros, especialmente os menores de 34 semanas, precisam ser alimentados por sonda gástrica até que consigam mamar com segurança. Isso envolve treinamento com fonoaudióloga e pode demorar semanas, até que se consiga retirar completamente a sonda e permitir a alimentação do bebê por via oral. 

O bebê que nasceu prematuro recebeu menor quantidade de anticorpos maternos através da placenta. Além disso, a necessidade de catéter venoso por dias, internação prolongada e uma resposta imatura do sistema imunológico são fatores de risco para aquisição de sepse ou infecção. 

Muitos bebês nascem prematuros por causa de infecção materna, por isso precisam do uso precoce de antibióticos. O uso de antibióticos  também altera a microbiota do bebê. Por isso, bebês prematuros podem ser mais acometidos por infecções e terem maior dificuldade para combater essas infecções. 

A apnéia é a interrupção da respiração por um período superior a 20 segundos, ou uma pausa de menor duração, associada a quedas de saturação de Oxigênio (saturação < 85%) e/ou bradicardia (FC < 80 bpm), cianose ou palidez cutânea.

Ela ocorre em praticamente 100 % dos prematuros extremos e até 20% nos prematuros de 34 semanas. 

O tratamento é feito com cafeína, medidas clínicas e suporte ventilatório, e tendem a cessar os episódios quando o bebê atinge certo grau de maturidade.  

Prematuros extremos podem utilizar cafeína até 36 semanas de idade corrigida e 1 semana sem Apnéia. 

Enterocolite necrosante é uma doença grave, que afeta principalmente os bebês prematuros com peso <1,5 kg, mas também pode afetar bebês de termo que sofreram asfixia ao nascimento ou que nasceram com alguma má-formação. 

É uma inflamação intestinal importante, que requer uso de antibióticos, jejum, Nutrição parenteral, e casos graves podem levar a necrose intestinal e cirurgia para ressecção do intestino. Alguns bebês com enterocolite grave, que passam por cirurgia, evoluem com síndrome do intestino curto. 

O único fator de proteção que temos contra a enterocolite nos prematuros é o uso de leite materno, que pode ser dado crú, pasteurizado ou através da colostroterapia. 

O funcionamento da medula óssea do prematuro é imaturo, e associado a maior demanda metabólica do prematuro e a punções venosas para coleta de sangue, os prematuros podem evoluir com anemia bem precocemente, a chamada anemia da prematuridade. 

Por isso é super importante a suplementação profilática do ferro no bebê prematuro, que deve começar no primeiro mês de vida do bebê.

8. Icterícia da prematuridade 

No bebê prematuro, devido a maior imaturidade dos seus órgãos, a icterícia é mais frequente, podendo atingir até 80% dos prematuros.

Essa icterícia é mais intensa e duradoura, por isso a fototerapia é utilizada com mais frequência para o tratamento da icterícia nos prematuros.

9. Retinopatia da prematuridade 

A retinopatia da prematuridade (ROP) é uma doença que afeta os olhos dos bebês prematuros. Ela ocorre quando os vasos sanguíneos da retina, a parte do olho responsável pela visão, não se desenvolvem normalmente. Em casos graves, pode evoluir com descolamento de retina e cegueira.

A ROP ocorre mais em bebês com menos de 1,5kg e nos menores de 32 semanas ao nascimento. 

O diagnóstico é feito através do exame de fundo de olho, realizado por um oftalmologista, no bebê ainda internado, por volta de 30 dias de vida. 

10. Osteopenia da prematuridade 

A doença metabólica óssea é uma condição de baixa mineralização óssea, por déficit de cálcio e fósforo. 

Ocorre nos bebês menores de 32 semanas e com peso < 1,5 kg. 

Bebês de risco para DMO devem fazer uma triagem com 21 dias de vida, que inclui a avaliação laboratorial do cálcio, fósforo e fosfatase alcalina. 

Se a triagem estiver alterada, deverá ter uma investigação da causa (deficiência de cálcio, deficiência de fósforo ou deficiência de Vitamina D), para melhor adequação da oferta nutricional. 

11. Hemorragia peri-intraventricular 

É uma das principais complicações neurológicas em recém-nascidos prematuros. Ocorre com maior frequência em menores de 32 semanas e com peso de nascimento <1,5 kg. 

Além desses fatores, outras intercorrências como necessidade de reanimação ao nascimento, necessidade de ventilação prolongada, incidência de sepse, quadro grave com instabilidade da pressão arterial, são fatores que contribuem para sua ocorrência. 

70% dos casos de HPIV ocorre nos primeiros dias de vida do recém-nascido, entre o 4° até 7° dia de vida. O diagnóstico  é feito através de ultrassom, e o prognóstico dependente da localização e extensão da lesão. Geralmente HPIV grau I e grau II são as mais frequentes, e não evoluem para grandes complicações. Paralisia cerebral e comprometimento cognitivo grave são mais comuns em bebês que sofreram HPIV grau IV, com infarto hemorrágico intraparenquimatoso. 

12. Displasia Broncopulmonar 

Displasia broncopulmonar é uma doença pulmonar crônica, resultante de agressões nos pulmões imaturos, causadas pelo tratamento que os recém-nascidos prematuros precisam na UTI, como a necessidade prolongada de oxigênio, suporte para respirar e até ventilação mecânica. 

A lesão que ocorre nos pulmões dos bebês com displasia traz algumas características, como dificuldade para respirar, respiração acelerada e dependência de oxigênio, além de chiado no peito e tosse. 

O tratamento desse quadro envolve questões nutricionais, uso de oxigênio, medicamentos e prevenção de infecções.

O Tempo de Internação e a Alta Hospitalar

A duração da internação depende do grau de prematuridade e das condições do bebê. Para receber alta, ele precisa:

  • Respirar sem auxílio de aparelhos.
  • Se alimentar adequadamente sem necessidade de sonda.
  • Manter temperatura corporal estável no berço.
  • Apresentar ganho de peso contínuo.

A maioria dos bebês prematuros recebe alta entre 36 e 37 semanas de idade gestacional, com peso entre 2,0 kg e 2,5 kg. No entanto, cada caso é único e requer acompanhamento médico especializado.

Cuidados Pós-Alta e Desenvolvimento

Após a alta hospitalar, é fundamental manter o acompanhamento pediátrico para monitorar o crescimento e o desenvolvimento neuropsicomotor do bebê. Alguns prematuros podem precisar de terapias adicionais, como fisioterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional.

Além disso, é essencial seguir medidas preventivas em casa, como:

  • Evitar objetos fofos no berço (cobertores, travesseiros e pelúcias) para reduzir o risco de Síndrome da Morte Súbita Infantil (SMSI).
  • Sempre colocar o bebê para dormir de barriga para cima.
  • Manter o esquema de alimentação e medicação orientado na alta é fundamental para a saúde do bebê nos primeiros dias em casa. É importante tirar todas as dúvidas e garantir a primeira consulta com pediatra em até 7 dias após a alta. 

A prematuridade impõe desafios, mas com o suporte adequado, é possível o desenvolvimento saudável do bebê. O carinho e a atenção dos pais, aliados a um acompanhamento médico rigoroso, fazem toda a diferença na trajetória desses pequenos guerreiros.

Caso você esteja gestante ou tenha um bebê prematuro, procure um atendimento individualizado, humanizado e especializado para escolher as melhores opções de vacinação. Você pode ter mais informações clicando aqui. Também, acesse minha página no Facebook e o perfil do Instagram para ter acesso a conteúdos de valor sobre saúde infantil.

Dra. Jessica Soares⠀

Pediatra e Neonatologista⠀

CRM-SP 126.429 | RQE 60.897

Compartilhe esse post

Leia mais

Leia mais artigos